Obra do mês de Março: Enciclopédia da mulher pela Editora Globo S. A, 1961.

1 de março de 2018

A igualdade de gênero é tema recorrente nas discussões contemporâneas, principalmente no que se refere aos seus efeitos de sentido e às relações de poder dentro da sociedade. Nesse sentido, são ressaltados os discursos sobre o papel da mulher ao longo da história que reforçaram estereótipos de subserviência e sustentaram discursos de violência contra o feminino, ainda adotados no cenário pós-moderno. No Brasil, desde o final do século XIX, o movimento denominado de feminismo assume contornos diversos, com uma bandeira direcionada à liberdade, à igualdade de oportunidades e à justiça social.

Nesse ínterim, por meio dos registros históricos (documentos, jornais, revistas), da literatura, dos testemunhos e das memórias um pesquisador pode ter acesso às mais diversas formas de representação do feminino materializadas na linguagem, dedicando-se a compreender a constituição dos comportamentos humanos bem como as relações de poder intrínsecas à construção dos gêneros.

Compreendendo a importância desta temática e rememorando o alusivo oito de março, a obra do mês, pertencente à Biblioteca de Obras Raras Átila de Almeida, é a Enciclopédia da mulher, editado pela Editora Globo S. A, ano de 1961, com 320 páginas. Seu título original foi o Encyclopédie de la femme, editado por Fernand Nathan, em Paris, França e impresso em 1950.

Esta obra trata em 16 seções, escritas majoritariamente por mulheres, das funções sociais femininas nas mais diversas esferas e faixas etárias, como afazeres domésticos, direitos e deveres assumidos por esse grupo social, na época. Outros discursos, igualmente interessantes, destacam diretrizes e medidas sobre os padrões físicos femininos ideais.

  

Em seções como A mulher e a vida social, Horas de folga, A conservação da casa e os trabalhos domésticos mais do que descrever os comportamentos “apropriados” às mulheres da época, percebem-se que os discursos reunidos corroboram para uma construção ideológica sobre a mulher submissa, silenciada e oprimida, trazendo marcas discursivas de um sujeito histórico controlado pelos dizeres sociais, embora se encontrem diversos trechos em que se ressalta o caráter progressista da obra, a exemplo da própria apresentação:

“Reunir num único volume todos os conhecimentos indispensáveis à mulher moderna, tal foi a grande preocupação dos editores desta Enciclopédia. […] É o lar, sem dúvida, o mais importante campo de atuação feminina, e nada haverá nêle que não sofra o influxo direto ou indireto daquela que está destinada, pela própria natureza, a ser sua rainha.”

Por fim, a Enciclopédia da mulher torna-se mais uma importante fonte de estudo e pesquisa sobre a constituição histórica e cultural do feminino no país. Destacamos ainda outra obra que pode somar em pesquisas sobre o gênero feminino, a exemplo do Ensayo de um Diccionario de Mujeres Celebres, publicado em Madri, Espanha, em 1959, com 1210 páginas, disponível para consulta e pesquisa no Acervo Dr. Bezerra de Carvalho, pertencente à Biblioteca de Obras Raras Átila de Almeida.