Obra do mês de Maio: Classificação dos escravos para serem libertados pelo fundo de emancipação de Campina Grande, 1876.

4 de maio de 2018

Senhor Deus dos desgraçados! /Dizei-me vós, Senhor Deus, /Se eu deliro… ou se é verdade /Tanto horror perante os céus?!… /Ontem simples, fortes, bravos. /Hoje míseros escravos, /Sem luz, sem ar, sem razão…”

Parte de um dos poemas épicos mais conhecidos da literatura brasileira, Navio Negreiro, do escritor Castro Alves, estes versos reverberam em um tratamento profundamente sensorial e emotivo um cenário marcado por imagens do sofrimento e da tristeza do homem escravo, que nos sensibilizam para este momento histórico retratado como também para os desdobramentos que a escravidão provocou nas raízes culturais e sociais de seu povo.

Refletindo sobre esta conjuntura e lembrando que no próximo dia 13 de maio completa-se 130 anos da assinatura da Lei Áurea – documento que autorizou a libertação dos escravos no Brasil –, a Biblioteca de Obras Raras Átila de Almeida convida o seu leitor/pesquisador a conhecer uma das obras mais significativas sobre este momento histórico: Classificação dos escravos para serem libertados pelo fundo de emancipação de Campina Grande, datado de 1876.

Este livro de classificação era uma exigência da Lei de 28 de Setembro de 1871 (Lei do Ventre Livre) que criara, também, o Fundo de Emancipação para libertar os trabalhadores escravizados. A obra, um manuscrito, contém informações relacionadas à caracterização e à identificação dos escravos, tais como: número de matrícula, nome, cor, idade, estado civil, profissão, aptidão para o trabalho, quantidade de pessoas da família, moralidade, valor, nome do senhor (proprietário) e um espaço destinado às observações, que traziam quantidade de filhos (se eram libertos ou escravos), características físicas que auxiliariam a identificá-lo, a categorizá-lo, classificá-lo.

Essa classificação, rotulação dos negros como produto, objeto de comercialização e como ser inferior enraizou-se nas práticas e relações sociais, discursos e representações culturais no país, percebidas ainda na contemporaneidade. Assim, compreendendo que a escravidão no Brasil deixou profundas marcas históricas, culturais, sociais e políticas na representação e visibilidade dos negros no país, e tomando como referência a obra do mês de maio, a Biblioteca de Átila de Almeida e a Coordenadoria de Bibliotecas (SIB/UEPB) promovem um momento de discussão que denominamos como Diálogos sobre os desdobramentos da escravidão no Brasil: práticas culturais e currículo escolar.

O evento terá por formato palestras conduzidas pelas professoras Drª Patrícia Cristina de Aragão Araújo (UEPB) que tratará das questões relacionadas a O legado da história e cultura afrobrasileira no currículo escolar e, em seguida, a doutoranda em Ciências Sociais pela UFCG, Vanessa Emanuelle de Souza que versará sobre O impacto da escravidão: um estudo de caso em uma comunidade quilombola paraibana. O evento é gratuito e aberto à comunidade, sendo realizado no auditório da Biblioteca Central, Campus I, no dia 18 de maio de 2018, às 14 horas e contará ainda com a participação do cordelista Josenildo Maria de Lima. Mais informações: 83-3315-3377.