Obra do mês de outubro: A bagaceira, de José Américo de Almeida, 1928 – 1ª ed.

7 de outubro de 2020

A identidade cultural do sujeito está intimamente relacionada ao seu sentimento de pertencimento a um determinado lugar, tempo e práticas culturais, funcionando como um sistema de referência individual ou coletiva de autoconhecimento. Deve-se entender a identidade cultural e regional dentro das representações literárias como um complexo processo que contempla desde a identidade socialmente construída, como também a expressão do imaginário coletivo e da memória na formação dos sujeitos ali representados. Sendo assim, a literatura registra, enquanto manifestação da linguagem, as múltiplas identidades culturais de um povo.

Desse modo, experimentar uma obra literária, torna-se, também, um exercício de conhecimento e valorização dessas culturas. Dentro desse contexto, sabendo que no dia 08 de outubro comemoramos o dia do nordestino, instituímos para Obra do Mês, uma das grandes produções literárias nordestinas e que se tornou um romance de referência para a literatura nacional: a primeira edição de A bagaceira, de José Américo de Almeida, de 1928. Esse livro foi um marco importante no desenvolvimento do modernismo, pois instaura o que denominamos de literatura regionalista numa narrativa que, ao mesmo tempo, denuncia aspectos sociais da região e poetiza cenas e sentimentos dos personagens, se tornando uma referência literária importante para autores como José Lins do Rêgo, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos.

A bagaceira traz em seu escopo o sofrimento humano diante da estrutura social arcaica dos engenhos, entre dois períodos de seca. Sua composição harmoniosa entre os diferentes discursos evidencia a tragédia social presenciada pela chegada de retirantes do sertão na região do brejo. Sobre a circunscrição do espaço do romance, é interessante ressaltar que José Américo de Almeida nasceu e cresceu no brejo, cidade de Areia-PB, tendo presenciado os retirantes do sertão chegar em sua região em busca de melhores condições. Assim, a narrativa marca o encontro entre duas regiões, o sertão e o brejo, retratadas como realidades distintas, vítimas do mesmo descaso político e social e mesquinhez humana, características que também se refletem nos aspectos físicos e comportamentais dos personagens.

Além de ser uma primeira edição do romance A bagaceira, o livro conta com dedicatória assinada pelo próprio José Américo de Almeida: “Ao sr. Viriato Corrêa, minerador de nossa história e brilhante consciência dos nativos brasileiros. Com a homenagem de José Américo de Almeida. Parahyba do Norte, 1928.”
Esta edição da obra A bagaceira pertence à Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida, que está situada no 1º andar da administração central da Universidade Estadual da Paraíba. Para mais informações sobre a obra, entre em contato pelo (83) 3315-3424 ou pelo e-mail: atilaalmeida.bc@setor.uepb.edu.br

Texto: Ana Carolina Aragão